quarta-feira, 8 de outubro de 2014

crianças psicopatas

Desde pequeno, Gustavo batia nos pais e em outras crianças. Era algo tão grave e tão constante que o levou a ser internado aos 13 anos num hospital psiquiátrico, onde ele ficou por um ano e meio. O tratamento não surtiu efeito. Sua mãe, Natália, se sentia culpada e humilhada pelas outras pessoas. “Diziam que eu permitia os abusos dele, que bastaria dar uns tapinhas”, afirma. “Minimizavam a situação, falavam que Gustavo tinha apenas uma adolescência conflituosa.” O garoto roubou dinheiro da família, destruiu a casa 3 vezes, cortou a orelha do pai e golpeou as costelas da mãe, que foi parar no hospital por isso. “Às vezes, eu acordava no meio da noite e ele estava nos observando dormir. Percebi que nos mataria a qualquer momento”, conta Natália. “Enfrentei todas essas situações, esperei o que estipula a lei (protegê-lo até os 21 anos) e dei por terminado esse calvário. Não o vejo mais.” Natalia tomou a decisão em 1993, após fazer terapia e decidir que o filho era irrecuperável. O casal acabou expulsando o garoto de casa – por puro medo de ser assassinado. “Muitas mães continuam carregando essa situação nos ombros. Outras morrem nas mãos de seus filhos”, afirma. Gustavo é a minoria da minoria. Há crianças que são agressivas e perversas como ele era na infância – mas não necessariamente se tornarão adultos problemáticos. Elas batem nos irmãos e tiram objetos dos pais, por exemplo, mas tudo passa após uma etapa de ajuste. “Não podemos jamais concluir que crianças com distúrbios de comportamento serão psicopatas no futuro. Por isso, não se dá o diagnóstico de psicopatia antes dos 18 anos”, diz o psiquiatra forense Guido Palomba. Mas algumas crianças que apresentam esses distúrbios vão, sim, se tornar adultos psicopatas, por mais acompanhamento e tratamento que recebam. É o caso de Gustavo: ele nasceu e vai morrer assim. Hoje, aos 40 anos, busca contato com os parentes – mas só para prejudicá-los. Roubou objetos dos pais na única vez que o deixaram entrar em casa. “Continuo em terapia porque a dor de perdê-lo foi dilacerante. Senti culpa e saudade, mas sei que para ele eu não valho nada”, diz Natália.


“Às vezes, eu acordava no meio da noite e ele estava nos observando dormir. Percebi que nos mataria a qualquer momento.” – Natália, mãe de Gustavo. Argentina.
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