Vocês se lembram daquele jogo “Harvest Moon”, no SNES?
Sempre foi um dos meus favoritos, mas quando eu me mudei da
casa dos meus pais para um dormitório estudantil, minha mãe vendeu o jogo em
uma venda de garagem sem me avisar. Depois que me formei e consegui uma casa
própria, eu decidi tirar a poeira do meu SNES e procurei por uma cópia do jogo.
Fui a um camelô que eu já tinha visitado algumas vezes antes. Fui até à
barraquinha de vídeo deles, onde fitas de jogos antigos e VHS eram vendidos.
Buscando na sessão de jogos, eu encontrei uma cópia de “Harvest Moon” para
SNES. O jogo estava em perfeitas condições, eu mal podia acreditar. Geralmente
o jogo custava entre 60 ou 70 dólares online, mas na loja custou 15. Comprei e
voltei para casa.
Quando cheguei em casa, coloquei o jogo no meu SNES e o
liguei. Não funcionou de primeira, apareceu apenas uma tela preta. Isso é
normal em consoles velhos, especialmente os que funcionam com cartuchos. Tirei
o cartucho, assoprei, e o coloquei de volta. Liguei o console e fui recebido
pelo familiar logo “Natsume”. Havia dois save files, um vazio e o outro nomeado
“JACK”. Comecei um jogo novo, ignorando “JACK”. Joguei por algumas horas,
plantando nos campos, cuidando dos animais, falando com os moradores e vendendo
e comprando como sempre se faz no jogo. Depois disso, fui dormir para trabalhar
no outro dia. Não joguei por uns dias, até ter um dia livre.
No sábado, eu liguei o SNES para jogar e fui logo para a
tela de “load file”, lá estava o meu arquivo e o “JACK”. Curioso, carreguei
“JACK” para ver que tipo de jogo o dono anterior estava jogando. Assim que
apertei “carregar”, a lâmpada da minha luminária queimou. Não liguei para isso
e continuei a jogar. O arquivo carregou, e quando mostrou a casa do fazendeiro,
onde você sempre começa, algo estava diferente. Como vocês devem saber, você
pode se casar e ter um filho em “Harvest Moon”. A esposa do personagem, Ann,
estava parada em frente a um berço vazio, uma das “necessidades” de se ter um
filho no jogo. Ela não estava parada do mesmo modo de quando você começa o dia,
e pensei que fosse algum tipo de erro. Andei até ela e apertei o botão de
“falar”, mas a resposta que recebi foi “…”.
Agora eu tinha certeza de que era um erro, mas tudo mudou
assim que eu saí da casa. Do lado de fora, o cachorro, que sempre estava por lá
também, havia sumido. A fazenda estava cheia de lixo, e as plantações estavam
todas mortas, mesmo sendo primavera. A casa e os prédios da fazenda pareciam em
ruínas, quebrados, e o local aonde ficava a fonte de água estava cheia de algo
marrom, que parecia ser lama. Eu não tenho certeza, uma vez que o jogo tem
gráficos primitivos. Saindo da fazenda para investigar mais, eu fui até a
encruzilhada onde o vendedor geralmente fica com seu caminhão. Mas assim que cruzei
a estrada, eu vi o caminhão abandonado no meio dela, parecia que não era usado
havia anos. Agora eu pensava que era algum tipo de hack, ou um erro que eu
nunca tinha visto antes.
Quando cheguei na cidade principal do jogo, eu não estava
surpreso em encontrar todos os prédios do mesmo modo que as casas da fazenda —
em ruínas e abandonados. Não havia moradores na cidade, mas de repente uma
caixa de texto apareceu na parte de baixo da tela com as palavras “VÁ PARA A
IGREJA”. Eu sabia exatamente aonde a igreja ficava e fui até lá. Enquanto
caminhava, encontrei o padre (ou ministro, shaman, ou seja lá quem ele deve
ser) parado do lado de fora. Cheguei perto dele e apertei “A”, ele disse “Jack,
por que você demorou tanto? Venha, venha, precisamos começar.” Então o jogo
seguiu em uma coisa tipo filme, o fazendeiro seguindo o padre para dentro da
igreja. Lá dentro, o que eu vi era simplesmente repugnante. A cruz estava
virada de cabeça para baixo, um tanto quanto clichê, creio eu. As paredes
estavam pintadas em um tom escuro, preto-acinzentado, e havia velas pretas
montadas em forma de pentagrama em volta do bonequinho de bebê que pertence ao
berço da fazenda. Os bancos estavam ocupados pelos moradores, que pareciam
cansados e com os cabelos cinzas, mas novamente os gráficos me deixaram sem
certeza.
“Coactum atrum”, o padre disse, pairando sobre o bebê,
continuando: “Voco tu ego”. Então o jogo começou a dar problemas horríveis. Os
auto-falantes, que até então não haviam produzido um ruído sequer, apenas os
efeitos sonoros, lançaram um som distorcido e a tela ficou preta, mas não por
muito tempo. O que eu vi logo em seguida pareciam cenas retiradas de algum
mangá. Elas eram pixelizadas, bem mal, claro, mas eu podia ver o que estava
acontecendo. A primeira imagem representava o padre segurando uma faca sobre o
peito do bebê, os painéis seguintes mostravam-o fazendo o sinal da cruz
invertido. Então, como um slideshow, as imagens mudaram, continuando o show.
Agora eu sabia que era um hack.
Nas próximas figuras, tentáculos rasgaram o peito do bebê, e
se espalharam por toda a igreja e a cidade nas imagens seguintes. Eu estava
fascinado que alguém tivera tempo e esforço para colocar tudo isso dentro de um
cartucho. Mas o que aconteceu depois me fez mudar de ideia, e me fez tremer. Um
retrato pixelizado da minha namorada apareceu, e o slideshow moveu-se
rapidamente, como um livro sendo folheado. Mostrava sua barriga crescendo em
gravidez. O olhar em seu rosto me encarava, sem expressão. Quase pulei para
fora das calças quando ouvi meu celular tocar o mais alto que podia (Pelo menos
parecia estar muito alto naquele momento). Levantei e fui até a cozinha
atendê-lo. Era minha namorada, ela estava estática, dizendo que estava grávida!
Olhei para a TV, mas a tela estava apenas fora do ar.
Nove meses depois, ela deu à luz a um bebê natimorto.
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